Neutropenia – quando investigar?

Uma das queixas mais frequentes do consultório é alteração nas células do sangue. 

Hoje eu quero conversar sobre os glóbulos brancos ou leucócitos. A alteração para mais é conhecida como leucocitose e para menos é a leucopenia. 

O valor normal é de 4 a 11 mil por mm³. Alguns laboratórios já mudaram esses valores pelos dados coletados da população. Na hematologia continuamos utilizando esses valores para guiar a necessidade de investigação.

Os glóbulos brancos são células essenciais para a imunidade. Temos dentro desse conjunto os neutrófilos, eosinófilos, basófilos, linfócitos e monócitos.

O intervalo de referência para contagem diferencial de leucócitos é:

linfócitos – 1000 a 4000 por mm³ (20%–40%) 

neutrófilos – 1500 a 8000 por mm³ (55%–70%), 

monócitos – 100 a 700 por mm³(2% – 8%), 

eosinófilos – 50 a 500 por mm³ (1%–4%), 

basófilos – 25 a 100 por mm³ (0.5%–1%).

A neutropenia é definida como uma contagem absoluta de neutrófilos abaixo de 1500 por mm³. A meia-vida dos neutrófilos maduros é de cerca de 7 horas. Eles atravessam irreversivelmente o endotélio vascular nos tecidos, onde morrem após 1 ou 2 dias.

Quando os e neutrófilos estão baixos isso pode ser agudo ou crônico e também podem ser interpretados como uma problema  extrínseco (causado por medicações) ou intrínseco (causado por alterações internas).

A gravidade da neutropenia determina a possibilidade de complicações. Neutrófilos de 1000 a 1500 por mm³ podem justificar uma investigação, mas não prejudicam a defesa e nem aumentam seu risco. Neutrófilos de 500 a 1000 por mm³ podem aumentar discretamente o risco de infecções, principalmente se outros braços do sistema imune estiverem comprometidos. Neutrófilos de 200 a 500 por mm³ são associados a um risco aumentado de infecções na maioria dos pacientes. E neutrófilos abaixo de 200 por mm³ ou menos (agranulocitose) acarreta um risco grave e as infecções podem ter risco de vida. 

Neutropenia constitucional benigna, também conhecida como neutropenia étnica benigna, é caracterizada por neutropenia crônica em indivíduos não caucasianos que são aparentemente saudáveis e não têm uma história de infecções recorrentes apesar de contagens baixas de neutrófilos. 

Sabemos que o teste de antígenos eritrocitários do grupo Duffy ajuda nesse diagnóstico  (resultado – Fya  Fyb negativos) mas nem sempre está disponível. 

O diagnóstico de neutropenia constitucional benigna é mais complexo e impreciso em países com etnia mista. Trouxe dois trabalhos que nos ajudam a entender melhor como diagnosticar.

Podemos usar testes de diagnóstico que avaliam a mobilização de neutrófilos a partir de compartimentos de reserva.

Um estudo mostrou que subir escadas ou caminhar antes das coletas de sangue levava a uma diferença significativa entre as contagens de neutrófilos pela manhã e à tarde em pacientes com neutrófilos baixos  (1038 vs. 1836, aumento mediano de 879 células/mL 95% IC 745−1028, p 0,001), bem como nos pacientes com neutrófilos normais (1958 vs. 2766, aumento mediano de 619 células/mL) 

Em algumas populações a neutropenia pode ser esperada e em outro  estudo com doadores de sangue  na população árabe incluíram 600 participantes, sendo 200 mulheres e 400 homens. A prevalência de neutropenia foi de 10,7%. A prevalência no sexo feminino foi de 32% e, no sexo masculino, de 6%. Neutropenia menor que 1000 foi detectada em 10% das mulheres árabes e 1,8% dos homens árabes.

Vários estudos clínicos mostraram que a contagem de neutrófilos poderia ser afetada pela etnia, e este estudo descreveu uma diferença significativa na contagem de neutrófilos entre árabes africanos e árabes asiáticos.. De acordo com os  dados, os ocidentais, afro-americanos, mexicano-americanos, população afro-caribenha apresentaram baixos limites normais de neutrófilos, menor do que os observados em caucasianos. 

E provavelmente esse foi o motivo da mudança dos valores de referência no Brasil. 

E como tratamos? 

Para muitos indivíduos com neutropenia idiopática, autoimune ou cíclica, uma dose de filgrastim semanal pode ser adequada para manter os neutrófilos sanguíneos superiores a 1000.

Referências: 

  • Damian Souto, J; Portugal, RD and Nucci, M – Effect of circadian variation on neutrophil mobilization to the peripheral blood in benign constitutional neutropenia – Experimental Hematology VOLUME 69, P22-26, JANUARY 2019.
  • Yassin, Mohamed A. MBBS, FACP, MSca; Soliman, Ashraf T. MD, PhDb; Hmissi, Saloua M. MDc; Abdulla, Mohammad A.J. MDa; Itani, Maya MScd; Alamami, Ans A. MDe; Aldapt, Mahmood B. MDa; Suliman, Aasir M. MDa; Ibrahim, Ezzeddin A. MDa; Mohamed, Mouhand F.H. MDf; Rozi, Waail MDa; Mohamed, Shehab F. MDa; Chandra, Prem PhDg; Nashwan, Abdulqadir J. RN, MSc, PhD(c)h,*. Prevalence of neutropenia among adult Arabs in Qatar: Relation to other hematological parameters and anthropometric data. Medicine 101(36):p e30431, September 09, 2022.
  • Steward, Colin G. – Neutropenia in Barth syndrome: characteristics, risks and management, Curr Opin Hematol. Author manuscript; available in PMC 2020 January 01

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